Igreja composta de membros regenerados e biblicamente batizados



Há ainda um conceito errôneo entre crentes de algumas denominações de que entre os batistas “a única preocupação principal é a administração do batismo”. Claro que não é isso. Como escreveu Ernest F. Kevan: “As convicções dos batistas baseiam-se primariamente na natureza espiritual da igreja, e a prática do batismo dos crentes surge como corolário desse fato”[22]. Ainda diz: “De acordo com a crença batista, a igreja é composta daqueles que nasceram de novo pelo Espírito Santo e foram conduzidas a uma fé pessoal e salvífica no Senhor Jesus Cristo (...) Ser membro da igreja de Cristo não se baseia no acidente nem no privilégio do nascimento num país cristão ou numa família cristã. Os batistas, portanto, repudiam o conceito anglicano e presbiteriano ao apagarem da definição da igreja a expressão: “juntamente com seus filhos”[23].

Esse princípio batista de que os membros da igreja local devem ser regenerados e biblicamente batizados deriva das páginas do Novo Testamento (Mt 3.5,6; At 2.38,41; 8.12,36-38; 10.47,48; 16.31-33; 18.8; 19.4,5). Portanto, no princípio do cristianismo era assim, como afirma J. Clyde Turner: “Não existe nenhuma evidência de que alguma vez alguém se fizesse membro de uma igreja neotestamentária, sem haver passado pela experiência do novo nascimento que vem por meio da fé no Senhor Jesus Cristo”.[24]

Por isso a ênfase no batismo dos crentes regenerados após a pública profissão de fé tornou-se uma marca distintiva dos batistas, pois “o simples fato de arrolar-se na lista de membros de uma igreja não torna a pessoa membro do corpo de Cristo”.[25]

O princípio de uma membresia regenerada e biblicamente batizada traz como resultado as seguintes afirmações lógicas e coerentes dos batistas:

1) Afirmação na prática de um princípio neotestamentário. Tendo como princípio a autoridade exclusiva da Bíblia e o Novo Testamento como a fonte normativa da vida da igreja, os batistas concluíram a ordem: fé salvadora em Jesus Cristo, regeneração, pública profissão de fé e batismo.
2) A afirmação da necessidade de pureza da igreja. A regeneração (uma nova gestação) implica que o crente é nova criatura em Cristo para uma vida em “que tudo se fez novo”. Uma vida regenerada implica pureza no pensar, falar, agir e conduzir-se. Por isso o batismo bíblico por imersão é a única forma de representar a mudança espiritual na vida do cristão (Rm 6:1-4).
3) Afirmação da associação voluntária dos crentes como igreja. Como conseqüência da liberdade religiosa que resulta numa igreja livre e num Estado livre, o crente se associa como membro de uma igreja levado naturalmente pela consciência de sua competência como indivíduo e sua responsabilidade diante de Deus e dos outros crentes.
4) Afirmação do sacerdócio universal do crente. Relacionado com os itens anteriores, o cristão como regenerado é um sacerdote com acesso direto à presença de Deus (Hb 10:19-20), tem o direito de examinar as Escrituras para “acessar” o que Deus lhe diz sob a iluminação do Espírito Santo.[26]

Desejo concluir este tópico com algumas considerações sobre o perigo que ronda este princípio batista hoje.

Em primeiro lugar, as igrejas, principalmente sua liderança, precisam preocupar-se com os candidatos à profissão de fé para batismo a fim de evitar que pessoas simplesmente “catequizadas” se tornem “prosélitos batistas”. A solução é que se efetuem os batismos após discernimento e constatação segura de que o candidato é um crente regenerado. O princípio bíblico é que o simples fato de arrolar-se na lista de membros de uma igreja não torna a pessoa membro do corpo de Cristo. Cuidado extremo deve ser exercido a fim de que sejam aceitas como membros da igreja as pessoas que deem evidências positivas de regeneração e verdadeira submissão a Cristo.[27] Levar essa recomendação a sério é um remédio eficaz contra o cristianismo nominal.

Segundo, é necessário que se pregue e ensine que o ato de “levantar a mão” para “aceitar Jesus como Salvador” não é um passaporte mágico que evidencia ser o indivíduo um crente em Jesus Cristo, e que decidida, a pessoa terá resolvido seus problemas financeiros e de saúde.

Por isso, é necessário enfatizar que “o aprendizado cristão inicia-se com a entrega a Cristo, como Senhor (...) O discípulo aprende a verdade em Cristo, somente por obedecê-la. Essa obediência exige a entrega das ambições e dos propósitos pessoais e a obediência à vontade do Pai. A obediência levou Cristo à cruz e exige de cada discípulo que tome a própria cruz e siga Cristo (...) Sua vida pessoal [a do discípulo] manifestará autodisciplina, pureza, integridade e amor cristão, em todas as relações que tem com os outros. O discípulo é completo”[28].

Apesar da ênfase necessária a um discípulo cristão com base no senhorio de Cristo para que não se tenha um rol de membros apenas “inchado”, termino com o alerta de John Landers: “Sempre existe, com o devido cuidado, a possibilidade de uma igreja aceitar alguém cuja fé não seja verdadeira, mas cada igreja tem a responsabilidade de tentar limpar suas fileiras a pessoas realmente convertidas".[29]
__________
[22] KEVAN, Ernest F. A tradição batista in: EHTIC, Elwell, Walter. S. Paulo: Vida Nova, 1990, p. 550. Vol 3.
[23] Embora batize crianças de colo, prática com o qual os batistas não concordamos, os presbiterianos consideram a confirmação como o momento da profissão de fé para tornar-se membro da igreja. O conceito presbiteriano e reformado do batismo infantil difere do da igreja Católica, para o qual o batismo transforma a criança em um cristão nascido de novo.
[24] TURNER, J. Clyde. Doctrina neotestamentária de la iglesia. El Paso, Texas: Casa Bautista de Publicaciones, 1967, p. 36.
[25] LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1986.
[26] O direito do “livre exame”, derivado da Reforma Protestante, não quer dizer que ao ler a Bíblia alguém possa interpretar livremente as Escrituras e ensinar as suas próprias conclusões. Como diz Pedro: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (2 Pe 1:20).
[27] LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1986.
[28] Ibid.
[29] Princípios batistas, p. 8.

Nota: Este é um extrato de Princípios e doutrinas batistas por Roberto do Amaral Silva, pg. 24-25

Nenhum comentário:

Postar um comentário