A autoridade da Bíblia



O que é princípio da autoridade da Bíblia? Significa que apenas as Escrituras, que são os registros escritos da auto-revelação de Deus aos homens, possuem autoridade suficiente para guiar o indivíduo na sua crença e no seu comportamento. Justo Anderson afirma que “as igrejas batistas consideram a Bíblia como a fonte de autoridade, especialmente o Novo Testamento, como o registro da vida, o exemplo e os mandamentos de Jesus Cristo”.[15] Anderson ainda argumenta que a autoridade da Bíblia, principalmente a do Novo Testamento, se relaciona com o princípio do senhorio de Jesus Cristo, porque “a autoridade do Novo Testamento se deriva do Senhor do Novo Testamento. Em outras palavras, a palavra escrita deriva sua vitalidade da Palavra vivente”.[16]

Por esse motivo nós, batistas, entendemos que nossas doutrinas e práticas devem estar subordinadas ao Novo Testamento. Com isto em mente, James Giles escreveu: “O que alguémconsidera como autoritativo em religião e prática determinará seu comportamento”.[17] Por isso, quando o muçulmano, no mês sagrado de Ramadã, jejua desde o nascer ao pôr-do-sol, inclusive sem fumar e abstendo-se de relação sexual, faz guiado pelo Alcorão, que para ele é a autoridade máxima.

Neste uso, justificam-se plenamente as diferenças acentuadas entre o islamismo e o cristianismo. Para o islamita, o Alcorão é autoritativo; para o cristão, a Bíblia é sua regra de fé e prática. Agora, como entender as várias igrejas com o nome de cristãs mas com doutrinas e práticas tão diferentes, senão até contrárias?

Vejamos três exemplos de igrejas que divergem de doutrinas e práticas batistas.

O primeiro exemplo é o da igreja católica romana com o seu papa infalível, veneração (na realidade culto) a Maria e aos santos, a oração pelos mortos em um suposto purgatório; a salvação pelas obras etc. Quanta distância das doutrinas e práticas bíblicas!

Mesmo assim o catecismo da igreja católica romana diz: “Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra incessantemente seu alimento e sua força, pois nela não acolhe somente uma palavra humana, mas o que é realmente: a Palavra de Deus”. Estas afirmações do catecismo estão corretas, merecendo o nosso amém. Agora, como conciliar os desvios de crenças e práticas católicas com os ensinos das Escrituras? A resposta é uma só: o catolicismo não tem apenas a Bíblia, mas também crê que “A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só sagrado depósito da Palavra de Deus confiado à igreja”.[18] Logo, o que não tem base bíblica é justificado pela tradição, que é o conjunto de ensinamentos e práticas sem o apoio das Escrituras, que foram acrescentados com o passar do tempo.

O segundo exemplo são as igrejas protestantes pedobatistas, isto é, as que batizam crianças recém-nascidas, e efetivam o batismo na forma de aspersão. É o caso das igrejas luterana, anglicana ou episcopal, presbiteriana e metodista. Embora sejam igrejas derivadas direta ou indiretamente da Reforma do século XVI que proclamou a Bíblia como única regra de fé e prática, não questionaram alguns conceitos e práticas à luz do Novo Testamento. Por isso José dos Reis Pereira escreveu: “Porque manteve o batismo infantil além de outras doutrinas e práticas oriundas do romanismo ou nele inspiradas é que dizemos que a Reforma do século XVI não foi completa. Lutero e Zwuínglio, bem como Calvino e os anglicanos mais tarde, não tiveram fôlego moral e espiritual para percorrer todo o caminho de volta ao cristianismo do 1° século. Detiveram-se antes de terminar a jornada”.[19]

O terceiro exemplo são as igrejas neopentecostais que têm difundido ensinos bastante estranhos à Bíblia e ao protestantismo histórico. Basta mencionar apenas alguns:

1) Estar bem com Deus significa ter saúde física e prosperidade financeira;
2) O crente deve determinar a bênção e não orar de acordo com a vontade de Deus;
3) Cura interior mediante o uso de hipnose e regressão que pode chegar à fase embrionária e “liberar perdão às pessoas envolvidas (aquelas dos momentos difíceis, amargos e traumatizantes) em cada fase e até mesmo a Deus”[20];
4) Quebra de maldição hereditária vinda de antepassados.

O mais curioso é que todos os envolvidos nos tais “encontros” propagam-nos dizendo: “Tudo que foi ensinado e pregado lá está dentro da Palavra”, querendo dizer que tem base bíblica. Entretanto a autoridade da Bíblia fica anulada pela aceitação de outras “autoridades normativas” como pretensas visões e revelações de líderes. Infelizmente, se esquecem das palavras de Paulo orientando a Timóteo para que admoestasse “a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina, nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que antes promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé” (1 Tm 1:3).

Finalizo este tópico dizendo que não adianta dizer que a Bíblia é autoridade se ela não norteia nossa fé e nosso agir.

É preciso entender que “as Escrituras revelam a mente de Cristo e ensinam o significado do seu domínio. Na sua singular e una revelação da vontade divina para a humanidade, a Bíblia é a autoridade final que atrai as pessoas a Cristo e as guia em todas as questões de fé cristã e dever moral. O indivíduo tem que aceitar a responsabilidade de estudar a Bíblia com a mente aberta e com atitude reverente, procurando o significado de sua mensagem através de pesquisa e oração, orientando a vida debaixo de sua disciplina e instrução”.[21]
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[15] ANDERSON, Justo C. Historia de los bautistas – suas bases e princípios. El Paso: Casa Bautista de Publicaciones, 1978. Tomo I.
[16] Ibid.
[17] GILES, James. Estos creemos los bautistas. Casa Bautista de Publicaciones, 1977, p. 18.
[18] Constituição Dogmática “Dei Verbum” sobre a revelação divina In: Compêndio do Vaticano II. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 121.
[19] PEREIRA, J. Reis. Breve história dos batistas. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Juerp, 1979, p. 50.
[20] AMAZONAS, Arão, (Coordenador). Manual de realização do encontro. Manaus: Semente de Vida Produções, p. 98.
[21] Princípios batistas.

Nota: Este é um extrato de Princípios e doutrinas batistas por Roberto do Amaral Silva, pg. 22-24

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