Competência do indivíduo e sua responsabilidade diante de Deus



O que é competência do indivíduo e sua responsabilidade diante de Deus? Significa que ele pode conhecer a vontade divina por meio da revelação das Escrituras, tornando-se responsável diante de Deus. Isso significa uma responsabilidade individual e direta no seu relacionamento com o Criador. Vejamos, portanto, as implicações desse princípio batista.

Em primeiro lugar, se o homem é competente e responsável, tem de ser livre. Isso quer dizer que ele foi criado à imagem e semelhança de Deus como ser racional e moral capaz de tomar decisões por si mesmo, devendo ter sua própria experiência com Deus, livre de toda interferência externa, amparada apenas pelo exame e estudo das Escrituras.

Em segundo lugar, a competência indica que cada um deve relacionar-se com Deus por si mesmo, pois essa é a conseqüência de ter sido criado como ser distinto, um indivíduo.

Por isso não há salvação “por atacado” por se estar simplesmente agregado ou filiado a uma igreja, ou por se ser membro de uma família cujos membros são cristãos. Como resultado, ninguém é salvo porque foi batizado quando bebê apadrinhado por alguém, porque não se pode ter experiência de salvação por apadrinhamento. No discurso de Pedro, no dia de Pentecostes, a conclusão foi clara: “arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus para remissão de vossos pecados” (At 2:38).

Em terceiro lugar, o cristão tem acesso direto a Deus. Por ser competente e responsável não necessita de nenhum intermediário humano. Descarta-se a teoria da “salvação por apadrinhamento” e mediante a intervenção sacerdotal humana tal como no catolicismo[54].

Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Tm 2:5).

Hoje, muitas igrejas evangélicas de linha neopentecostal aderiram a costumes e práticas que são combatidos pelos evangélicos históricos. Muitas têm restaurado a mediação clerical ao se colocarem como os únicos meios para interceder diante de Deus para a cura. Programa de rádio e tevê convencem o público de que a solução dos problemas e doenças está na “oração poderosa” feita pelo pastor ou na “corrente dos setenta pastores”, que é a formação de 35 pares enfileirados por onde passam os fiéis. Ainda há os pastores que vão ao Monte Sinai levando os sacos cheios de pedidos de oração das campanhas da “fogueira santa de Israel”, que deveria, na verdade, chamar-se “fogueira santa do Egito”. Tudo isso mostra a tendência para a mediação clerical e a volta do sacramentalismo nessas igrejas, com uso da unção do copo d’água, sal grosso espalhado pela casa etc.

Portanto, é preciso urgentemente enfatizar em nossas igrejas a competência e a responsabilidade do indivíduo no seu relacionamento com Deus em três aspectos:

1) Ao responder à chamada divina;
2) Ao ir a Deus em oração para solução dos problemas;
3) Ao tomar decisões que o levam fatalmente a assumir as conseqüências.

Para coroar a competência e responsabilidade individual, temos o sacerdócio universal de todo cristão, o qual não só tem “intrepidez para entrar no Santos dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho” (Hb 10:19-20), como também é competente para anunciar o evangelho de Cristo sem impedimento.

Apesar da competência do indivíduo, não vamos debandar para o individualismo exagerado. John Landers faz três ressalvas importantes sobre a competência do indivíduo.[55]

Em primeiro lugar, a competência do indivíduo não indica que o crente dispensa a igreja. Ninguém deve, sob a bandeira do individualismo, dizer: “Sou batista. Posso ler a Bíblia e tirar as minhas próprias conclusões e tenho acesso direto a Deus por Cristo”. Se fosse assim, Cristo não teria fundado a igreja. A vida cristã é para ser vivida em comunidade, como atesta a leitura do livro de Atos.

Em segundo lugar, ninguém existe fora do seu contexto social. Todos nós somos resultado de uma família e de uma comunidade. Aristóteles já dizia: “O homem é um animal
social”.

Finalmente, o cristão não é isento da responsabilidade social. Devemos ser o sal da terra e a luz do mundo, pois há “uma boa base bíblica para uma visão do lugar do crente na sociedade”.[56]

Nota: Este é um extrato de Princípios e doutrinas batistas por Roberto do Amaral Silva, pg. 31-32
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[54] Devido ao princípio da competência do indivíduo, nós batistas, não batizamos criança de colo, visto que ela ainda não é competente nas suas decisões moral e espiritual. Discordamos dos nossos irmãos presbiterianos e reformados.
[55] LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1986, p. 46.
[56] Ibid.

Um comentário:

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