A influência da reforma protestante no âmago da igreja e do homem



Neste 502 anos da reforma protestante eu gostaria de propor uma avaliação do que ela foi como vanguarda da opinião teológica e baixo clero. Proponho a leitura das 95 Teses e que percebam estes dois pontos. Martinho Lutero estava intimamente interessado em estabelecer um diálogo das questões teológicas com o povo e não só com a igreja, quando pregou suas teses de pública. Isto inevitavelmente suscitou corações que já ardiam pelas questões mais simples e as mais complexas das quias não tinham acesso as respostas. Neste sentido, Lutero trabalhou para que as 95 Teses fossem não só observações, mas uma resposta ao povo, e em virtude disso, o debate sobre a teologia "desceu as escadaria das catedrais" e foi para ruas, e assim para os lares até cá estamos hoje.

1. Vanguarda da opinião teológica

A história da reforma pode estar fortemente vinculada a este desejo de opinar, mas não por orgulho ou vaidade. Isto se trata de proclamação. Lutero vivencia algo avesso ao que lê nas Escrituras e toda sua argumentação baseia-se no arrependimento pessoal e prático, que não pode ser dado por ninguém, a não ser por Deus ao que se humilha perante Ele. Neste sentido, Lutero, então promove um debate teológico jamais ousado. Talvez pensado, mas exposto, nunca. Lutero atinge o cerne da questão, ele anula o antropocentrismo, o autoritarismo e estabelece um teocentrismo esquecido e impraticável até então. Lutero torna público um assunto passivo de disciplina eclesiástica. Ele fala de coisas qual e só o clero falava e nunca tratou eclesiasticamente.

2. O baixo clero

Se um assunto tão importante como o arrependimento genuíno estava oculto no clero, Lutero tratou de apresentar isso a todos. O resultado foi um clero irritado e um novo clero surgindo. Este novo clero pode ser chamado de "baixo" não por desmerecimento, mas por estar em meio ao povo, os assuntos bíblicos saíram dos corredores da "alta patente eclesiástica" e agora estava entre as vielas e os bancos das igrejas. Isso é um marco que nos remete ao que somos hoje. Se uma coisa não pode estar oculta, logo ela é avaliada, e o conhecimento dessa coisa liberta. O nosso sacerdócio universal foi coroado com o conhecimento da verdade a partir das 95 Teses e hoje qual cristão não sabe o que tem.nas mãos? Só aqueles que desdenham da história. Qual cristão não se vê penitente ante seu pecado, mas também alegre pela sua redenção no arrependimento? Este e tantos outros assuntos de fé são nossos, acessíveis. E qualquer que retenha isso retrocede não só na história como também na fé.

As 95 Teses

Por Martinho Lutero

Em 31 de Outubro de 1517, Martinho Lutero afixou na porta da capela de Wittemberg 95 teses que gostaria de discutir com os teólogos católicos, as quais versavam principalmente sobre penitência, indulgências e a salvação pela fé.

Movido pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade discutir-se-á em Wittemberg, sob a presidência do Rev. padre Martinho Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar presentes para tratarem o assunto verbalmente conosco, o poderão fazer por escrito. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

1ª Tese

Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos...., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.

2ª Tese

E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo do ofício dos sacerdotes.

3ª Tese

Todavia não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de modificações da carne.

4ª Tese

Assim sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência, perdura enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até a entrada desta para a vida eterna.

5ª Tese

O papa não quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao seu alvitre ou em acordo com os cânones, que são estatutos papais.

6ª Tese

O papa não pode perdoar divida senão declarar e confirmar aquilo que Já foi perdoado por Deus; ou então faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes casos, se desprezados, a dívida deixaria de ser em absoluto anulada ou perdoada.

7ª Tese

Deus a ninguém perdoa a dívida sem que ao mesmo tempo o subordine, em sincera humildade, ao sacerdote, seu vigário.

8ª Tese

Canones poenitendiales, que não as ordenanças de prescrição da maneira em que se deve confessar e expiar, apenas aio Impostas aos vivos, e, de acordo com as mesmas ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.

9ª Tese

Eis porque o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluído este de todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema

10ª Tese

Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõem aos moribundos poenitentias canonicas ou penitências para o purgatório a fim de ali serem cumpridas.

11ª Tese

Este joio, que é o de se transformar a penitência e satisfação, Previstas pelos cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi semeado quando os bispos se achavam dormindo.

12ª Tese

Outrora canonicae poenae, ou sejam penitência e satisfação por pecadores cometidos eram impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidade de provar a sinceridade do arrependimento e do pesar.

13ª Tese

Os moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o direito canônico, sendo, portanto, dispensados, com justiça, de sua imposição.

14ª Tese

Piedade ou amor Imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menor o amor, tanto maior o temor.

15ª Tese

Este temor e espanto em si tão só, sem falar de outras cousas, bastam para causar o tormento e o horror do purgatório, pois que se avizinham da angústia do desespero.

16ª Tese

Inferno, purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.

17ª Tese

Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, nelas também deve crescer e aumentar o amor.

18ª Tese

Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas ações e nem pela Escritura, que as almas no purgatório se encontram fora da possibilidade do mérito ou do crescimento no amor.

19ª Tese

Ainda parece não ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham certeza de sua salvação e não receiem por ela, não obstante nós termos absoluta certeza disto.

20ª Tese

Por isso o papa não quer dizer e nem compreende com as palavras “perdão plenário de todas as penas” que todo o tormento é perdoado, mas as penas por ele impostas.

21ª Tese

Eis porque erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa.

22ª Tese

Pensa com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas no purgatório das que segundo os cânones da Igreja deviam ter expiado e pago na presente vida.

23ª Tese

Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos mais perfeitos, que são muito poucos.

24ª Tese

Assim sendo, a maioria do povo é ludibriada com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.

25ª Tese

Exatamente o mesmo poder geral, que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura d'almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer para com os seus em particular.

26ª Tese

O papa faz muito bem em não conceder às almas o perdão em virtude do poder das chaves (ao qual não possui), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.

27ª Tese

Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.

28ª Tese

Certo é que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao dinheiro cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da Igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.

29ª Tese

E quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem diga o que sucedeu com Santo Severino e Pascoal.

30ª Tese

Ninguém tem certeza da suficiência do seu arrependimento e pesar verdadeiros; muito menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus pecados.

31ª Tese

Tão raro como existe alguém que possui arrependimento e, pesar verdadeiros, tão raro também é aquele que verdadeiramente alcança indulgência, sendo bem poucos os que se encontram.

32ª Tese

Irão para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.

33ª Tese

Há que acautelasse muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dadiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus.

34ª Tese

Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens.

35ª Tese

Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.

36ª Tese

Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados, sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.

37ª Tese

Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.

38ª Tese

Entretanto se não deve desprezar o perdão e a distribuição por parte do papa. Pois, conforme declarei, o seu perdão constitui uma declaração do perdão divino.

39ª Tese

É extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e ao contrário o verdadeiro arrependimento e pesar.

40ª Tese

O verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo: mas a profusão da indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça, pelo menos quando há oportunidade para isso.

41ª Tese

É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal para que o homem singelo não julgue erroneamente ser a indulgência preferível às demais obras de caridade ou melhor do que elas.

42ª Tese

Deve-se ensinar aos cristãos, não ser pensamento e opinião do papa que a aquisição de indulgência de alguma maneira possa ser comparada com qualquer obra de caridade.

43ª Tese

Deve-se ensinar aos cristãos proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta aos necessitados do que os que compram indulgências.

44ª Tese

Ê que pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se mais piedoso; pelas indulgências, porém, não se torna melhor senão mais seguro e livre da pena.

45ª Tese

Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgências do papa. mas provoca a ira de Deus.

46ª Tese

Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem fartura , fiquem com o necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.

47ª Tese

Deve-se ensinar aos cristãos, ser a compra de indulgências livre e não ordenada

48ª Tese

Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa precisa conceder mais indulgências, mais necessita de uma oração fervorosa do que de dinheiro.

49ª Tese

Deve-se ensinar aos cristãos, serem muito boas as indulgências do papa enquanto o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em conseqüência delas, se perde o temor de Deus.

50ª Tese

Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa tivesse conhecimento da traficância dos apregoadores de indulgências, preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

51ª Tese

Deve-se ensinar aos cristãos que o papa, por dever seu, preferiria distribuir o seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de indulgências, vendendo, se necessário fosse, a própria catedral de São Pedro.

52º Tese

Comete-se injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da Palavra do Senhor.

53ª Tese

São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de indulgências proíbem a Palavra de Deus nas demais igrejas.

54ª Tese

Esperar ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências, mesmo se o próprio papa oferecesse sua alma como garantia.

55ª Tese

A intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é a causa menor, com um sino, uma pompa e uma cerimônia, enquanto o Evangelho, que é o essencial, importa ser anunciado mediante cem sinos, centenas de pompas e solenidades.

56ª Tese

Os tesouros da Igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não são bastante mencionados e nem suficientemente conhecido na Igreja de Cristo.

57ª Tese

Que não são bens temporais, é evidente, porquanto muitos pregadores a estes não distribuem com facilidade, antes os ajuntam.

58ª Tese

Tão pouco são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto estes sempre são eficientes e, independentemente do papa, operam salvação do homem interior e a cruz, a morte e o inferno para o homem exterior.

59ª Tese

São Lourenço aos pobres chamava tesouros da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época.

60ª Tese

Afirmamos com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que estes tesouros são as chaves da Igreja, a ela dado pelo merecimento de Cristo.

61ª Tese

Evidente é que para o perdão de penas e para a absolvição em determinados casos o poder do papa por si só basta.

62ª Tese

O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

63ª Tese

Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os primeiros sejam os últimos.

64ª Tese

Enquanto isso o tesouro das indulgências é sabiamente o mais apreciado, porquanto faz com que os últimos sejam os primeiros.

65ª Tese

Por essa razão os tesouros evangélicos outrora foram as redes com que se apanhavam os ricos e abastados.

66ª Tese

Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.

67ª Tese

As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como a mais sublime graça decerto assim são consideradas porque lhes trazem grandes proventos.

68ª Tese

Nem por isso semelhante indigência não deixa de ser a mais Intima graça comparada com a graça de Deus e a piedade da cruz.

69ª Tese

Os bispos e os sacerdotes são obrigados a receber os comissários das indulgências apostólicas com toda a reverência-

70ª Tese

Entretanto têm muito maior dever de conservar abertos olhos e ouvidos, para que estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não preguem os seus próprios sonhos.

71ª Tese

Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.

72ª Tese

Quem levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e maldito.

73ª Tese

Da mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem astuciosamente.

74ª Tese

Muito mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob o pretexto de indulgência, prejudiquem a santa caridade e a verdade pela sua maneira de agir.

75ª Tese

Considerar as indulgências do papa tão poderosas, a ponto de poderem absolver alguém dos pecados, mesmo que (cousa impossível) tivesse desonrado a mãe de Deus, significa ser demente.

78 ª Tese

Bem ao contrario, afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo o menor pecado venial pode anular o que diz respeito à culpa que constitui.

77ª Tese

Dizer que mesmo São Pedro, se agora fosse papa, não poderia dispensar maior indulgência, significa blasfemar S. Pedro e o papa.

78ª Tese

Em contrario dizemos que o atual papa, e todos os que o sucederam, é detentor de muito maior indulgência, isto é, o Evangelho, as virtudes o dom de curar, etc., de acordo com o que diz 1Coríntios 12.

79ª Tese

Afirmar ter a cruz de indulgências adornada com as armas do papa e colocada na igreja tanto valor como a própria cruz de Cristo, é blasfêmia.

80ª Tese

Os bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do povo, terão de prestar contas deste procedimento.

81ª Tese

Semelhante pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a Indulgência, faz com que mesmo a homens doutos é difícil proteger a devida reverência ao papa contra a maledicência e as fortes objeções dos leigos.

82 ª Tese

Eis um exemplo: Por que o papa não tira duma só vez todas as almas do purgatório, movido por santíssima' caridade e em face da mais premente necessidade das almas, que seria justíssimo motivo para tanto, quando em troca de vil dinheiro para a construção da catedral de S. Pedro, livra um sem número de almas, logo por motivo bastante Insignificante?

83ª Tese

Outrossim: Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para o mesmo fim ou não se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou pretendas oferecidos em favor dos mortos, visto' ser Injusto continuar a rezar pelos já resgatados?

84ª Tese

Ainda: Que nova piedade de Deus e dó papa é esta, que permite a um ímpio e inimigo resgatar uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e não resgatar esta mesma alma piedosa e querida de sua grande necessidade por livre amor e sem paga?

85ª Tese

Ainda: Por que os cânones de penitencia, que, de fato, faz muito caducaram e morreram pelo desuso, tornam a ser resgatados mediante dinheiro em forma de indulgência como se continuassem bem vivos e em vigor?

86ª Tese

Ainda: Por que o papa, cuja fortuna hoje é mais principesca do que a de qualquer Credo, não prefere edificar a catedral de S. Pedro de seu próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de fiéis pobres?

87ª Tese

Ainda: Quê ou que parte concede o papa do dinheiro proveniente de indulgências aos que pela penitência completa assiste o direito à indulgência plenária?

88ª Tese

Afinal: Que maior bem poderia receber a Igreja, se o papa, como Já O faz, cem vezes ao dia, concedesse a cada fiel semelhante dispensa e participação da indulgência a título gratuito.

89ª Tese

Visto o papa visar mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que revoga os breves de indulgência outrora por ele concedidos, aos quais atribuía as mesmas virtudes?

90ª Tese

Refutar estes argumentos sagazes dos leigos pelo uso da força e não mediante argumentos da lógica, significa entregar a Igreja e o papa a zombaria dos inimigos e desgraçar os cristãos.

91ª Tese

Se a Indulgência fosse apregoada segundo o espírito e sentido do papa, aqueles receios seriam facilmente desfeitos, nem mesmo teriam surgido.

92ª Tese

Fora, pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz! Paz! e não há Paz.

93ª Tese

Abençoados sejam, porém, todos os profetas que dizem à grei de Cristo: Cruz! Cruz! e não há cruz.

94ª Tese

Admoestem-se os cristãos a que se empenhem em seguir sua Cabeça Cristo através do padecimento, morte e inferno.

95ª Tese

E assim esperem mais entrar no Reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados diante de consolações infundadas

Igreja evangelística e missionária



Esse importante princípio também pode ser denominado de o “princípio bíblico da grande comissão”, com base em Mateus 28.18-20. Normalmente evangelho e ação missionária não são analisadas freqüentemente sob a ótica de um princípio batista. Justo Anderson, no seu estudo “Enfocando sete princípios batistas”, inclui como sétimo o “princípio evangelístico – O evangelismo pessoal e a obra missionária”, justificando: “Nenhum estudo dos princípios batistas pode terminar sem uma consideração do princípio evangelístico com seu corolário missionário”[57]. O princípio batista da igreja missionária enfatiza que cada cristão, obediente ao “ide” de Jesus e no exercício do “sacerdócio universal dos crentes”, deve ser uma testemunha de Cristo e um proclamador do evangelho, e cada igreja como participante do empreendimento missionário. Os batistas ensinam que “o evangelismo é a proclamação do juízo divino sobre o pecado, e das boas-novas da graça divina em Jesus Cristo”, assim como missões “é a extensão do propósito redentor de Deus através do evangelismo e do serviço cristão além das fronteiras da igreja local”[58].

É necessário saber, de imediato, que o propósito evangelístico e missionário da igreja origina-se no próprio Deus. Quando do pecado do primeiro homem e da mulher, o Criador os procurou na situação em que se encontravam e, não concordando com a iniciativa deles ao se cobrirem com “folhas de figueira”, fez “vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu”. Está aqui a primeira ação missionária de Deus buscando o homem no pecado e agindo a favor dele. A ação de Deus em prover-lhes “vestimentas de peles” implicou a morte de um animal para cobrir o pecado humano. Ali já estava o princípio divino: “sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9:22).

Mostraremos apenas algumas passagens que mostram o interesse de Deus em abençoar e salvar toda a humanidade. Deus, ao chamar Abraão, fez dele um grande povo no qual “serão benditas todas as famílias da terra (Gn 12:3)”. No Salmo 2, de conteúdo messiânico, onde o Pai diz ao Filho: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por possessão” (v. 8), fica bem clara a intenção divina de ter seu reino expandido por toda a terra. Também no Salmo 96, o salmista declara: “Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as sua maravilhas” (v. 3), isto é, as bênçãos e a salvação divinas.

O profeta Isaías igualmente anunciou: “O Senhor desnudou o seu santo braço à vista de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus” (Is 52:10). E Joel deixou claro o propósito de Deus para a humanidade ao declarar: “Acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne. E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo (Jl 2.28-32). Pedro, séculos depois, em Jerusalém, refere-se a essas palavras de Joel, mostrando seu cumprimento naqueles milhares de ouvintes que representavam povos de várias partes do mundo conhecido, núcleo da universalização do evangelho aos quatro cantos do mundo, em cumprimento ao “ide” e “fazei discípulos de todas as nações” de Jesus. O propósito missionário de Deus chega ao clímax anunciado em Apocalipse 21:3: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles”.

O propósito de Deus em ter um povo “de todas as nações, tribos, povos e línguas” toma corpo em Cristo que “veio buscar e salvar o perdido”. Para isso pregou, ensinou com palavras e manifestação de poder, morreu e ressuscitou dos mortos “depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas” e, tornando-se “o Mediador da nova aliança” entre Deus e os que a ele recorrem.

Antes de subir aos céus, no entanto, Jesus delegou aos seus discípulos contemporâneos e aos futuros com a seguinte ordem: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra, ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 28:18-20). O que Jesus está dizendo é, em outras palavras, o seguinte: “O Pai me deu autoridade total no estabelecimento do seu reino. Agora, eu delego a vocês a tarefa de expandi-lo em toda a terra, fazendo novos discípulos por onde quer que vocês estejam, entre todos os povos e etnias. Ao ensinarem a eles todas as coisas que vocês já aprenderam de mim e que eu ordenei que praticassem, batizem-nos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E não fiquem preocupados com o que der e vier, porque eu estarei sempre com vocês, não com minha presença física mas, sim, na pessoa do Espírito Santo que estará permanentemente até o fim da história, dando-lhes assistência e poder espiritual para a tarefa delegada por mim a vocês. Não há como haver falha. Eu garanto”.

Desejo, agora, fazer duas considerações pormenorizadas do “fazei discípulos de todas as nações”. A primeira diz respeito ao âmbito universal da pregação do evangelho e do discipulado. “Nações”, no original grego, é “éthne” (donde vem etnia, étnico). Portanto, a missão da igreja cristã abrange todos os povos e grupos étnicos, com toda variedade cultural e religiosa. Muitos hoje, inclusive alguns cristãos, influenciados pela maré pós-modernista, alegam que a igreja não deve se preocupar em levar o evangelho aos povos de outros cultos. Afinal, dizem, todas as religiões são válidas, porque são expressões diferentes de adoração ao mesmo Deus (ou deuses). Assim, Javé, Baal, Krishna, Alá e Buda são vários nomes para a mesma divindade. Igualmente, não se deve pregar a ninguém de outro credo. É a filosofia do “cada um na sua” e o conceito de que evangelizar uma pessoa é impor um ponto de vista religioso a alguém, já que todas religiões são iguais e boas, como reza o credo do pluralismo pós-moderno. Entretanto, ignorando o pluralismo daquela época e de hoje, a ordem de Jesus é: “sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia (judaísmo) e Samaria (do culto samaritano) e até os confins da terra (de todos os cultos e credos)”. Não é preconceito religioso o cristão proclamar que Deus “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Tm 2:4-5).

A segunda consideração refere-se ao mandamento: “ensinando-os a guardar todas as coisas”, nas palavras de Jesus. Há grupos religiosos que usam a Bíblia em suas reuniões, mas não são cristãos nem creem em Jesus evangelicamente. Elogiam os ensinos de Jesus, mas só o que interessa ao ponto de vista religioso que professam.

Igualmente, igrejas evangélicas existem que pregam aquilo que Bonhoeffer chamou de “graça barata”, como declarou: “A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma congregação, é a ceia do Senhor sem confissão dos pecados (...) A graça barata é a graça sem discipulados, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado”[59].

Hoje temos visto a proliferação de pregadores que têm pregado um “evangelho facilitado”, na expressão de Almir dos Santos Gonçalves Júnior, que denuncia em “denominações ou seitas ditas evangélicas as pregações sobre a prosperidade, o bem-estar, a grande sorte, a solução para o desemprego, a resposta para as dificuldades ao relacionamento pessoal, a felicidade na vida conjugal, o remédio para o problema com os filhos ou com os pais, enfim, tudo de bom, sem exigências ou renúncias, para aquele que se diz crente em Jesus”[60]. No mesmo tom, diz o pastor Isaltino Gomes Coelho Filho: “E infelizmente, até mesmo boa parte da pregação evangélica não é para criar temor de Deus, e levar as pessoas à retidão, mas é uma pregação que oferece bênçãos e prosperidade para quem frequenta determinada denominação”[61].

Nota: Este é um extrato de Princípios e doutrinas batistas por Roberto do Amaral Silva, pg. 32-
__________
[57] ANDERSON, op cit, p. 101.
[58] LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1986, p. 18 e 20.
[59] BONHOEFFER, Dietriech. Discipulado. São Leopoldo, RS: Ed. Sinodal, 1980, p. 10.
[60] GONÇALVES JÚNIOR, Almir dos Santos. Quando o púlpito perde o poder. Rio de Janeiro: Juerp, 1998, p. 37.
[61] COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Os profetas menores. Rio de Janeiro: Juerp, 2002, p. 26.

Competência do indivíduo e sua responsabilidade diante de Deus



O que é competência do indivíduo e sua responsabilidade diante de Deus? Significa que ele pode conhecer a vontade divina por meio da revelação das Escrituras, tornando-se responsável diante de Deus. Isso significa uma responsabilidade individual e direta no seu relacionamento com o Criador. Vejamos, portanto, as implicações desse princípio batista.

Em primeiro lugar, se o homem é competente e responsável, tem de ser livre. Isso quer dizer que ele foi criado à imagem e semelhança de Deus como ser racional e moral capaz de tomar decisões por si mesmo, devendo ter sua própria experiência com Deus, livre de toda interferência externa, amparada apenas pelo exame e estudo das Escrituras.

Em segundo lugar, a competência indica que cada um deve relacionar-se com Deus por si mesmo, pois essa é a conseqüência de ter sido criado como ser distinto, um indivíduo.

Por isso não há salvação “por atacado” por se estar simplesmente agregado ou filiado a uma igreja, ou por se ser membro de uma família cujos membros são cristãos. Como resultado, ninguém é salvo porque foi batizado quando bebê apadrinhado por alguém, porque não se pode ter experiência de salvação por apadrinhamento. No discurso de Pedro, no dia de Pentecostes, a conclusão foi clara: “arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus para remissão de vossos pecados” (At 2:38).

Em terceiro lugar, o cristão tem acesso direto a Deus. Por ser competente e responsável não necessita de nenhum intermediário humano. Descarta-se a teoria da “salvação por apadrinhamento” e mediante a intervenção sacerdotal humana tal como no catolicismo[54].

Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Tm 2:5).

Hoje, muitas igrejas evangélicas de linha neopentecostal aderiram a costumes e práticas que são combatidos pelos evangélicos históricos. Muitas têm restaurado a mediação clerical ao se colocarem como os únicos meios para interceder diante de Deus para a cura. Programa de rádio e tevê convencem o público de que a solução dos problemas e doenças está na “oração poderosa” feita pelo pastor ou na “corrente dos setenta pastores”, que é a formação de 35 pares enfileirados por onde passam os fiéis. Ainda há os pastores que vão ao Monte Sinai levando os sacos cheios de pedidos de oração das campanhas da “fogueira santa de Israel”, que deveria, na verdade, chamar-se “fogueira santa do Egito”. Tudo isso mostra a tendência para a mediação clerical e a volta do sacramentalismo nessas igrejas, com uso da unção do copo d’água, sal grosso espalhado pela casa etc.

Portanto, é preciso urgentemente enfatizar em nossas igrejas a competência e a responsabilidade do indivíduo no seu relacionamento com Deus em três aspectos:

1) Ao responder à chamada divina;
2) Ao ir a Deus em oração para solução dos problemas;
3) Ao tomar decisões que o levam fatalmente a assumir as conseqüências.

Para coroar a competência e responsabilidade individual, temos o sacerdócio universal de todo cristão, o qual não só tem “intrepidez para entrar no Santos dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho” (Hb 10:19-20), como também é competente para anunciar o evangelho de Cristo sem impedimento.

Apesar da competência do indivíduo, não vamos debandar para o individualismo exagerado. John Landers faz três ressalvas importantes sobre a competência do indivíduo.[55]

Em primeiro lugar, a competência do indivíduo não indica que o crente dispensa a igreja. Ninguém deve, sob a bandeira do individualismo, dizer: “Sou batista. Posso ler a Bíblia e tirar as minhas próprias conclusões e tenho acesso direto a Deus por Cristo”. Se fosse assim, Cristo não teria fundado a igreja. A vida cristã é para ser vivida em comunidade, como atesta a leitura do livro de Atos.

Em segundo lugar, ninguém existe fora do seu contexto social. Todos nós somos resultado de uma família e de uma comunidade. Aristóteles já dizia: “O homem é um animal
social”.

Finalmente, o cristão não é isento da responsabilidade social. Devemos ser o sal da terra e a luz do mundo, pois há “uma boa base bíblica para uma visão do lugar do crente na sociedade”.[56]

Nota: Este é um extrato de Princípios e doutrinas batistas por Roberto do Amaral Silva, pg. 31-32
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[54] Devido ao princípio da competência do indivíduo, nós batistas, não batizamos criança de colo, visto que ela ainda não é competente nas suas decisões moral e espiritual. Discordamos dos nossos irmãos presbiterianos e reformados.
[55] LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1986, p. 46.
[56] Ibid.

Liberdade religiosa e de consciência



No artigo 5º da nossa constituição, aprovada em 1988, parágrafo 6º, lemos: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as liturgias”.[48] O artigo 8º reza que ninguém é privado dos seus direitos devido à crença religiosa a convicções política e filosófica, a menos que utilize esse direito para fugir de qualquer obrigação legal.

Também a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 1948, da qual o Brasil é signatário, diz no Artigo XVIII: “Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular”.

Muita gente não sabe, mas se temos uma constituição que nos dá liberdade religiosa e uma declaração de âmbito internacional, isso se deve aos batistas. Roberto Baker escreve: “O povo batista levou a América à liberdade religiosa (...) se um homem é responsável diretamente diante de Deus, logo tem que estar livre de restrições humanas para poder responder perante Deus”.[49]

Não só devido às perseguições através da sua história, mas também porque creem na competência do indivíduo diante de Deus, vejamos o que os batistas entendem acerca da liberdade religiosa: “Os batistas consideram como inalienável a liberdade de consciência, a plena liberdade de religião de todas as pessoas. O homem é livre para aceitar ou rejeitar a religião; escolher ou mudar sua crença; propagar e ensinar a verdade como entender, sempre respeitando os direitos e convicções alheios; cultivar a Deus tanto a sós quanto publicamente; convidar outras pessoas a participarem nos cultos e noutras atividades de sua religião (...) Tal liberdade não é privilégio para ser concedido, rejeitado ou meramente tolerado – nem pelo Estado, nem por qualquer outro grupo religioso – é um direito outorgado por Deus”.[50]

Desejo destacar dois pontos importantes no texto acima. O primeiro é que nós, os batistas, precisamos enfatizar o respeito às pessoas de qualquer credo religioso. Há alguns evangélicos que praticam o que eu chamaria de “evangelismo iconoclasta” ou “evangelismo de elite”. Roberto Dumas, do Instituto de Pesquisa Negra, do Rio, acusa alguns evangélicos que “invadem terreiros (de umbanda) para destruir imagens e agredir adeptos, além de interromper cultos em matas e cachoeiras”.[51] É claro que pregar o evangelho não é por força nem por violência, mas pelo Espírito Santo.

O segundo é que temos o direito, que é também dos outros, de propagar e ensinar a nossa fé. Ou seja, pregar o evangelho. A nossa Constituição garante isso, todavia a pregação e o discipulado têm encontrado barreiras, principalmente de grupos gays. Um deles acusa o “Movimento pela sexualidade sadia” (Moses) de “violar os direitos humanos, posto que luta para ‘curar’ os gays”.[52] A acusação refere-se ao testemunho cristão e aconselhamento espiritual a homossexuais. Se a moda pegar e se algum dispositivo legal vigorar, teremos um cerceamento à liberdade religiosa, além de contrariar “a liberdade de consciência e de crença” dos nossos púlpitos, o que viola a constituição federal. Se os homossexuais podem se manifestar publicamente travestidos e seminus, trocando carícias nas avenidas, por que nós, comprometidos com o evangelho de Cristo, não podemos pregar o que cremos da Bíblia sobre o homossexualismo? Se formos cerceados, nossa resposta será a mesma dos apóstolos diante do sinédrio: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens”.[53]

Nota: Este é um extrato de Princípios e doutrinas batistas por Roberto do Amaral Silva, pg. 30-31
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[48] Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, Senado Federal, 1988, p. 5.
[49] BAKER, Roberto. Los bautistas em la história. Casa Bautista de Publicaciones: El Paso, 1974, p. 126.
[50] LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1986.
[51] Isto É, 25/10/1995, p. 144.
[52] Eclésia, N.º 68, Ano VI, Agosto de 2001, p. 39.
[53] Atos 5.29.

Igreja separada do Estado


Quando a constituição brasileira diz ser “assegurado o livre exercício dos cultos religiosos”, está afirmando, em outras palavras, que vivemos num estado leigo. Mas nem sempre foi assim.

A situação jurídica dos não-católicos no Brasil Império deparava com o artigo cinco da Constituição de 1823: “A religião católica apostólica romana continuará a ser a religião do Império”[42]. Apesar da tolerância, as reuniões de culto seriam realizadas “em casa para isso destinadas sem forma alguma exterior de templo”.

Com o passar do tempo, a proibição foi afrouxando-se até que o Governo provisório Deodoro da Fonseca, no Art. 1°, proibia às autoridades federal e estadual qualquer religião oficial, e o Artigo 2 dizia que “a todas as confissões religiosas pertence por igual a faculdade de exercerem o seu culto”[43]. Enfim, oficialmente a liberdade religiosa no Brasil. Bem, oficialmente, não de fato, porque a igreja católica nunca concordou com a constituição que definia o estado leigo com liberdade religiosa. Posteriormente, houve uma proposta de emenda constitucional, em 1925, visando tornar o catolicismo novamente a religião oficial do Brasil[44].

O historiador Zaqueu Moreira de Oliveira conta que, após a República estabelecida e instituída a separação da igreja do Estado, “a aparente derrota da igreja romana, entretanto, terminou por encorajada a estabelecer formas de hostilidade e agressão contra os batistas com o intuito de emperrar seu progresso e impedir que eles conseguissem novos adeptos[45]”. Informa ainda que, na década de 1960, templos evangélicos eram atacados por fiéis católicos, apesar de que, nas cidades, a perseguição diminuíra em intensidade.

Hoje, nós vivemos sob regime de liberdade religiosa, num Estado leigo. Não entendemos a separação da igreja da esfera pública com bases humanistas com o fim de oprimir a “expressão religiosa” como nos países sob tutela da ex-União Soviética. Porém cremos que a separação se deve ao ensinamento global do Novo Testamento e resumido nas palavras de Jesus: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Por isso, a luta histórica dos batistas não é para livrar-se da religião mas, sim, liberar todas as pessoas para a religião da sua devoção, inclusive para o agnosticismo e ateísmo. Os batistas entendem que a liberdade de culto só pode ser satisfatória num Estado leigo. Segundo a compreensão dos batistas, “igreja e Estado são ordenados por Deus e responsáveis perante ele”, cabendo “ao Estado o exercício da autoridade civil, a manutenção da ordem e a promoção do bem-estar público”. Ainda mais: “O Estado deve à igreja a proteção da lei e a liberdade plena, no exercício do seu ministério espiritual”. 

Em contrapartida, “a igreja deve ao Estado o reforço moral e espiritual para a lei e a ordem, bem como a proclamação clara das verdades que fundamentam a justiça e a paz (...) A igreja deve praticar coerentemente os princípios que sustenta e que devem governar a relação entre ela e o Estado”.[46]

Diante dos fragmentos acima, podemos chegar a algumas conclusões acerca da separação entre igreja e Estado.

Primeira, ao Estado cabe apenas a preservação da lei e da ordem para todos os cidadãos, independentemente de sua convicção filosófica, política e religiosa. A imposição do feriado religioso a todos os brasileiros, em 12 de outubro, dedicado à “senhora Aparecida”, mostra ainda a ligação umbilical entre religião católica e o Estado laico brasileiro. O mesmo erro aconteceria se, numa hipótese, um presidente batista, apoiado por uma bancada de maioria evangélica, criasse leis favorecendo interesses evangélicos.

Segunda, aos cristãos cabe obediência às leis do país, desde que estas não conflitam com a consciência cristã. Devemos orar pelas autoridades, participando, dentro dos princípios bíblicos, da construção de uma sociedade mais ética e justa. Para tanto, a igreja, fazendo ecoar as vozes dos profetas, deve proclamar as “verdades que fundamentam a justiça e paz”. Coerentemente com sua pregação, nós, cristãos, devemos viver conforme pregamos sendo, assim, “sal da terra” e “luz do mundo”.

Finalmente há o perigo rondando o princípio da separação entre a esfera estatal e eclesiástica quando uma igreja, mediante intercessão de parlamentar evangélico, solicita terreno para construir templo[47]. A menos que haja cooperação entre órgão público e a igreja objetivando atividade social na comunidade em que se insere, entendo que a expansão da igreja e seu crescimento material deve provir unicamente das contribuições voluntárias, nunca dos cofres públicos.

Se a igreja aceita favores do Estado, com que voz ela poderá exercer sua independência e soberania? Com que autoridade poderá denunciar a imoralidade e a injustiça da classe política? Muitos líderes evangélicos do passado denunciaram o favorecimento oficial à igreja católica no Brasil, antes da proclamação da República e depois quando o catolicismo continuou “religião oficiosa”. Hoje, dirigentes evangélicos, que se tornaram parlamentares, passam por cima do princípio da separação das duas esferas e, no Congresso Nacional, reivindicam leis favorecendo exclusivamente evangélicos ou simplesmente a denominação que representam. Até acredito que parlamentares pastores até gostariam de ter sua denominação como a religião oficial do Estado Brasileiro.

Nota: Este é um extrato de Princípios e doutrinas batistas por Roberto do Amaral Silva, pg. 28-30
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[42] REILY, Duncan A. História documental do protestantismo no Brasil. São Paulo: Aste, 1984, p.28.
[43] Op. cit. p. 226.
[44] Idib. p. 228.
[45] OLIVEIRA, Zaqueu Moreira de Oliveira. Perseguidos, mas não desamparados, 90 anos de perseguição religiosa contra os batistas brasileiros. Rio de Janeiro: JUERP, 1989, p. 14.
[46] LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1986.
[47] Existem igrejas que até pedem material para construção de templo, mediante via ilegal. Não seria participar de corrupção, com desvio de verba?

Igreja como comunidade local, democrática e autônoma

Imagem: Severino Tomaz de Aquino (Assembleia da Convenção Batista de Caruaru na PIB da cidade)


Sempre que falamos de igreja, dizemos que é uma reunião de crentes. Mas essa afirmação não diz tudo. Não temos no Novo Testamento uma definição de igreja. O que temos são imagens, figuras usadas para designar a congregação do povo de Deus. Temos por exemplo a igreja como corpo de Cristo (Ef 1:22-23; 5:23,30; Cl 1:18,24); esposa de Cristo (Ef 5:25,29; Ap 19:7; 21:9; 22:17); lavoura de Deus, edifício ou templo de Deus (1 Co 3:9,16).

A palavra igreja provém do grego ekklesia (ek=fora; kaleo=chamar; portanto, chamar para fora). Ekklesia era a assembléia de cidadãos convocados para o espaço público para decidir assuntos de interesse da sua polis, ou cidade.

influência com “voto de cabresto”. Inclusive, há irmãos que ficam revoltados ou magoados quando a decisão da assembléia não está a seu favor.

Essa atitude difere completamente de uma verdadeira democracia eclesiástica. Segundo Justo Anderson, “uma congregação batista local teoricamente é uma democracia pura”.[37]

Citando outro autor, Anderson diz que Thomas Jéferson, principal autor da Constituição Americana, sempre dizia que as igrejas batistas eram exemplos perfeitos de democracia.

Quando examinamos as páginas do Novo Testamento, vemos que o governo eclesiástico era uma “democracia sob o senhorio de Cristo”. No primeiro capítulo de Atos, Lucas narra que a escolha do substituto de Judas se deu após a oração em que os apóstolos pediram para que José, também chamado Barsabás, ou Matias, fosse eleito. Ao orarem, disseram: “Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido”. O mesmo aconteceu na eleição dos sete e a decisão agradou a todos (At 6.3-6). Na controvérsia da circuncisão, conforme Atos 15, lemos: “Então, pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a igreja, tendo elegido homens dentre eles, enviá-los juntamente com Paulo e Barbabé, a Antioquia” (negrito nosso). É interessante notar que a carta enviada pela liderança a Antioquia diz: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais” (At 15.28). Grifamos “bem ao Espírito Santo e a nós”. Por isso, escreve Landers, “a igreja é, idealmente uma teocracia, mas Cristo não está mais presente visivelmente para tomar as decisões. Hoje, o Espírito Santo se manifesta através do voto do seu povo”[38]. E “a democracia, o governo da congregação, é a forma certa somente na medida que, orientada pelo Espírito Santo, providencia e exige a participação consciente de cada um dos membros nas deliberações do trabalho da igreja”. Por isso, conclui: “Nem a maioria, nem a minoria, nem tampouco a unanimidade, reflete necessariamente a vontade divina”[39].

Não preciso dizer que democracia supõe autonomia da igreja local. Mas é bom frisar que autonomia (etimologicamente significa lei própria ou capacidade de criar as próprias leis) quer dizer capacidade de governar-se a si mesmo. Todavia esse “governar-se a si mesmo” está subordinado às orientações de Cristo e a seu senhorio, como já vimos. Portanto, a igreja se autogoverna debaixo da orientação do Novo Testamento, no qual estão as normas de Cristo para o seu povo.

A autonomia da igreja local é um brado contra as seguintes formas de governo eclesiástico:

1) O governo monárquico exercido pelo papa que se supõe infalível. Abaixo dele há uma hierarquia, sob a qual está a comunidade local, a paróquia, que não tem voz nem vez. Hoje, algumas igrejas evangélicas estão caminhando para esse governo eclesiástico no qual o “papa” da denominação é chamado de bispo ou apóstolo, encastelado sob o manto da “incontestabilidade”. Para não dizer “infalibilidade”.
2) O governo episcopal, que é o governo dos bispos, tal como na igreja episcopal e na igreja metodista. Os bispos são o clero superior e os pastores inferiores. Há muitas igrejas que teoricamente não se enquadram nessa categoria, mas são episcopais no governo. Há algumas igrejas batistas da Convenção Batista Nacional (ala da renovação espiritual) cujos pastores têm sob sua tutela vários outros pastores de igrejas de bom porte numérico e financeiro (portanto, prontas para serem autônomas). Apesar de se dizerem batistas, não se guiam pelo princípiobíblico de igreja local, democrática e autônoma.
3) O governo presbiteriano centraliza-se na autoridade dos presbíteros. As decisões da igreja ficam a cargo do pastor e dos presbíteros. É uma espécie de governo representativo. Acima da igreja local há o presbitério (regional), o sínodo e o supremo concílio.

Agora desejo fazer duas considerações acerca desse princípio batista.

Primeiro, não se deve confundir conceito de igreja com o de reino de Deus ou o reino dos céus. Jesus mencionou 112 vezes “reino” (basiléia, em grego) que significa “governo”, reinado enquanto igreja (ekklesia), 2 vezes. Reino de Deus (ou dos céus) é o reinado ou o governo de Deus na vida dos súditos de Deus ou discípulos de Cristo. Como bem expressou George Eldon Ladd: “O reino é primariamente o reinado dinâmico ou domínio soberano de Deus e, derivadamente, a esfera na qual tal soberania é experimentada (...) A igreja é a comunidade do reino, mas nunca o próprio reino. Os discípulos de Jesus pertencem ao reino como o reino lhes pertence; mas eles não são o reino. O reino é o domínio de Deus; a igreja é uma sociedade composta por seres humanos (...) A igreja constitui-se o povo do reino de Deus, nunca o próprio reino”[40]. Jesus, ao ser interrogado pelos fariseus sobre a vinda do reino de Deus, respondeu: “O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Pois o reino de Deus está dentro de nós” (Lc 17:20,21). A resposta de Jesus deixa claro que o reino de Deus não se identifica com uma organização exterior e visível.

Segundo, não há um conceito de igreja batista identificando-a como denominação, como se diz igreja metodista do Brasil ou igreja presbiteriana do Brasil. Podemos dizer por exemplo: “As igrejas batistas, que formam a Convenção Batista Brasileira, precisam envidar esforços pela expansão do reino de Deus”. As igrejas batistas, na realidade, se unem voluntariamente em associações e convenções para esforço cooperativo visando a fins comuns. Para isso, as igrejas podem ou não aceitar as sugestões de propósitos, metas e métodos propostos pelas juntas.

Finalizo com as conclusões de E. Y. Mullins, eminente teólogo batista: “Não há que identificar o reino como uma igreja visível ou denominação visível, pois o reino é o reinado invisível e espiritual, sem considerações a fronteiras denominacionais”[41].

Nota: Este é um extrato de Princípios e doutrinas batistas por Roberto do Amaral Silva, pg. 25-28
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[37] ANDERSON, Justo C. Historia de los bautistas – suas bases e princípios. El Paso: Casa Bautista de
Publicaciones, 1978, pág. 65. Tomo I.
[38] LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1986.
[39] Ibid.
[40] LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro: Juerp, 1985, p. 105 e 106.
[41] TUNNER, J. Clyde. La doctrina neotestamentária de la iglesia. p 19.

Igreja composta de membros regenerados e biblicamente batizados



Há ainda um conceito errôneo entre crentes de algumas denominações de que entre os batistas “a única preocupação principal é a administração do batismo”. Claro que não é isso. Como escreveu Ernest F. Kevan: “As convicções dos batistas baseiam-se primariamente na natureza espiritual da igreja, e a prática do batismo dos crentes surge como corolário desse fato”[22]. Ainda diz: “De acordo com a crença batista, a igreja é composta daqueles que nasceram de novo pelo Espírito Santo e foram conduzidas a uma fé pessoal e salvífica no Senhor Jesus Cristo (...) Ser membro da igreja de Cristo não se baseia no acidente nem no privilégio do nascimento num país cristão ou numa família cristã. Os batistas, portanto, repudiam o conceito anglicano e presbiteriano ao apagarem da definição da igreja a expressão: “juntamente com seus filhos”[23].

Esse princípio batista de que os membros da igreja local devem ser regenerados e biblicamente batizados deriva das páginas do Novo Testamento (Mt 3.5,6; At 2.38,41; 8.12,36-38; 10.47,48; 16.31-33; 18.8; 19.4,5). Portanto, no princípio do cristianismo era assim, como afirma J. Clyde Turner: “Não existe nenhuma evidência de que alguma vez alguém se fizesse membro de uma igreja neotestamentária, sem haver passado pela experiência do novo nascimento que vem por meio da fé no Senhor Jesus Cristo”.[24]

Por isso a ênfase no batismo dos crentes regenerados após a pública profissão de fé tornou-se uma marca distintiva dos batistas, pois “o simples fato de arrolar-se na lista de membros de uma igreja não torna a pessoa membro do corpo de Cristo”.[25]

O princípio de uma membresia regenerada e biblicamente batizada traz como resultado as seguintes afirmações lógicas e coerentes dos batistas:

1) Afirmação na prática de um princípio neotestamentário. Tendo como princípio a autoridade exclusiva da Bíblia e o Novo Testamento como a fonte normativa da vida da igreja, os batistas concluíram a ordem: fé salvadora em Jesus Cristo, regeneração, pública profissão de fé e batismo.
2) A afirmação da necessidade de pureza da igreja. A regeneração (uma nova gestação) implica que o crente é nova criatura em Cristo para uma vida em “que tudo se fez novo”. Uma vida regenerada implica pureza no pensar, falar, agir e conduzir-se. Por isso o batismo bíblico por imersão é a única forma de representar a mudança espiritual na vida do cristão (Rm 6:1-4).
3) Afirmação da associação voluntária dos crentes como igreja. Como conseqüência da liberdade religiosa que resulta numa igreja livre e num Estado livre, o crente se associa como membro de uma igreja levado naturalmente pela consciência de sua competência como indivíduo e sua responsabilidade diante de Deus e dos outros crentes.
4) Afirmação do sacerdócio universal do crente. Relacionado com os itens anteriores, o cristão como regenerado é um sacerdote com acesso direto à presença de Deus (Hb 10:19-20), tem o direito de examinar as Escrituras para “acessar” o que Deus lhe diz sob a iluminação do Espírito Santo.[26]

Desejo concluir este tópico com algumas considerações sobre o perigo que ronda este princípio batista hoje.

Em primeiro lugar, as igrejas, principalmente sua liderança, precisam preocupar-se com os candidatos à profissão de fé para batismo a fim de evitar que pessoas simplesmente “catequizadas” se tornem “prosélitos batistas”. A solução é que se efetuem os batismos após discernimento e constatação segura de que o candidato é um crente regenerado. O princípio bíblico é que o simples fato de arrolar-se na lista de membros de uma igreja não torna a pessoa membro do corpo de Cristo. Cuidado extremo deve ser exercido a fim de que sejam aceitas como membros da igreja as pessoas que deem evidências positivas de regeneração e verdadeira submissão a Cristo.[27] Levar essa recomendação a sério é um remédio eficaz contra o cristianismo nominal.

Segundo, é necessário que se pregue e ensine que o ato de “levantar a mão” para “aceitar Jesus como Salvador” não é um passaporte mágico que evidencia ser o indivíduo um crente em Jesus Cristo, e que decidida, a pessoa terá resolvido seus problemas financeiros e de saúde.

Por isso, é necessário enfatizar que “o aprendizado cristão inicia-se com a entrega a Cristo, como Senhor (...) O discípulo aprende a verdade em Cristo, somente por obedecê-la. Essa obediência exige a entrega das ambições e dos propósitos pessoais e a obediência à vontade do Pai. A obediência levou Cristo à cruz e exige de cada discípulo que tome a própria cruz e siga Cristo (...) Sua vida pessoal [a do discípulo] manifestará autodisciplina, pureza, integridade e amor cristão, em todas as relações que tem com os outros. O discípulo é completo”[28].

Apesar da ênfase necessária a um discípulo cristão com base no senhorio de Cristo para que não se tenha um rol de membros apenas “inchado”, termino com o alerta de John Landers: “Sempre existe, com o devido cuidado, a possibilidade de uma igreja aceitar alguém cuja fé não seja verdadeira, mas cada igreja tem a responsabilidade de tentar limpar suas fileiras a pessoas realmente convertidas".[29]
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[22] KEVAN, Ernest F. A tradição batista in: EHTIC, Elwell, Walter. S. Paulo: Vida Nova, 1990, p. 550. Vol 3.
[23] Embora batize crianças de colo, prática com o qual os batistas não concordamos, os presbiterianos consideram a confirmação como o momento da profissão de fé para tornar-se membro da igreja. O conceito presbiteriano e reformado do batismo infantil difere do da igreja Católica, para o qual o batismo transforma a criança em um cristão nascido de novo.
[24] TURNER, J. Clyde. Doctrina neotestamentária de la iglesia. El Paso, Texas: Casa Bautista de Publicaciones, 1967, p. 36.
[25] LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1986.
[26] O direito do “livre exame”, derivado da Reforma Protestante, não quer dizer que ao ler a Bíblia alguém possa interpretar livremente as Escrituras e ensinar as suas próprias conclusões. Como diz Pedro: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação” (2 Pe 1:20).
[27] LANDERS, John. Teologia dos princípios batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1986.
[28] Ibid.
[29] Princípios batistas, p. 8.

Nota: Este é um extrato de Princípios e doutrinas batistas por Roberto do Amaral Silva, pg. 24-25